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terça-feira, 18 de setembro de 2012


Mulheres tiram sustento do que é descartado

Depois de separados, os materiais recicláveis são beneficiados e encaminhados para várias indústrias de SP que compram o produto.
O lixo é conhecido pelo ser humano como tudo aquilo que não tem mais valor e nem condição de ser usado. Um grupo formado por 26 mulheres tem uma visão diferente deste pensamento. Reunidas numa recém-criada cooperativa de reciclagem em Araçatuba, elas obtêm o seu ganha-pão por meio daquilo que a sociedade descartou um dia.

A Cooper Araçá (Cooperativa de Coleta Seletiva e Beneficiamento de Materiais Recicláveis de Araçatuba) é composta por 26 mulheres e 3 homens. O grupo atua nas instalações do aterro sanitário, localizado na zona rural. A cooperativa tem o apoio da Prefeitura de Araçatuba e da Revita Engenharia, empresa responsável pela limpeza pública.

O salário dos cooperados é pago com a venda dos recicláveis coletados no município. A faixa etária do grupo varia de 19 a 56 anos de idade. Em comum, são pessoas que trabalhavam de forma perigosa com o lixo. Alguns exerciam funções com baixíssima remuneração, se encontravam em situação de vulnerabilidade social ou não tinham trabalho.

Janete Araújo de Oliveira, 52 anos, coletou material reciclável na rua por um ano. Ela começou a recolher lixo por não querer ser mais empregada doméstica. O primeiro transporte usado para o serviço foi um carrinho de bebê, improviso que durou até ela conseguir um carrinho adequado. O trabalho começava antes de o sol nascer, mas o rendimento não ultrapassava R$ 200 por mês.

"Eu pegava muito dia de chuva", diz Janete, ao se recordar do passado. Ela foi uma das primeiras a fazer parte da Cooper Araçá, inaugurada em julho de 2011. Na nova função, ela demonstra agilidade e chega a separar, simultaneamente, dez tipos diferentes de resíduos. Com um ganho maior, está mais fácil pagar os gastos de casa, onde também vivem a filha, de 20 anos, e o neto, 4 anos.



PARTICIPAÇÃO
As cooperadas chegam a separar e a beneficiar 60 toneladas de recicláveis ao mês, em média. Todo recurso obtido com a venda do material para indústrias de reciclagem do Estado é revertido no salário dos trabalhadores, que varia de R$ 500 a pouco mais de R$ 900.
Os ganhos poderiam ser maiores, pois o material reciclado representa apenas 1,1% das 5,4 mil toneladas de lixo geradas mensalmente no município.

De acordo com a presidente da Cooper Araçá, Zenaide dos Santos, 55, se a população separasse o lixo seco, como plástico, alumínio e papel, do orgânico, o volume de material apto para a reciclagem seria maior. A meta da cooperativa é a de ultrapassar a marca de 100 toneladas de recicláveis ao mês, além de gerar mais empregos e aumentar o quadro de cooperados.

"Eu observo que as pessoas descartam a maior parte do material reciclável no lixo orgânico. Por isso, muito material que poderia ser reciclado acaba passando e vai parar no aterro", afirma Zenaide. Antes de ser a líder na cooperativa, ela trabalhou catando recicláveis na rua por 9 anos.

Gabriel Lopes, supervisor da Revita, confirma o diagnóstico da cooperativa e afirma que o município tem capacidade de aumentar o volume de resíduos reciclados. "É fundamental a conscientização e a educação ambiental em descartar os recicláveis da maneira correta. Talvez um entendimento maior de para onde isso está indo, como é feito é quem está sendo ajudado motivaria mais as pessoas", afirma.

O biólogo José Luís de Carvalho Sales, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Araçatuba, diz que, basicamente, as pessoas devem separar o lixo seco do úmido. "Muitas pessoas mandam só a latinha de alumínio e o tetra pak, mas se esquecem de que as latinhas de concentrados também podem ser recicladas", lembra.

ETAPAS
Na última semana, a Folha da Região acompanhou o trabalho da cooperativa. A primeira etapa consiste em descarregar o material coletado num fosso, trabalho feito pela Revita Engenharia. Com o auxílio de uma máquina coletora, a cooperada Célia Calixto Silva, 46, junta montes de lixo, já devidamente selecionado pela população, para depositá-los na esteira de separação, onde atua a maior parte das cooperadas. Depois de separados, o reciclável é beneficiado e encaminhado para várias indústrias do Estado, que compram o produto.

As irmãs Neusa Mendes de Souza, 48, e Terezinha Mendes de Souza, 55, apontam a segurança em trabalhar na cooperativa. "Aqui eu tenho mais segurança, antes eu não tinha. Não usava máscara e nem luva. Banheiro, então, nem se fala", diz Terezinha, que já chegou a trabalhar até no antigo lixão.

As duas têm alguns sonhos, que esperam conseguir por meio da coleta de recicláveis. Enquanto Terezinha imagina o dia em que conseguirá fechar as rachaduras de sua casa, Neusa pensa em poder comprar alguns móveis que ainda não tem para viver com mais conforto.

Os planos se confundem com os de outras mulheres, mas dependem do empenho da população em colaborar com a coleta seletiva para serem alcançados.









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